A continuidade do processo de revolução industrial, que tinha se iniciado na Inglaterra do século XVIII, fez com que as novas técnicas e meios de produção gerassem a crença em um progresso sem limites, capaz de solucionar todos os males da humanidade. Ao mesmo tempo, as máquinas suplantaram ainda mais o trabalho humano. Tal situação provocou o crescimento das desigualdades sociais e dos movimentos contrários aos avanços técnicos. Para melhor entender essa dualidade, é preciso examinar com atenção todas as características do período.
No início do século XIX, o mundo já não era mais o mesmo. O ser humano podia atravessar os mares com o barco à vapor, enquanto as mercadorias eram facilmente transportadas pelo trem, através das ferrovias. Um ou dois séculos antes dessas inovações, a grande maioria da população nascia, vivia e morria em uma mesma região, aldeia ou cidade. Agora, o mundo inteiro – ou pelo menos sua parte ocidental – passava a estar interligada, integrada pelos novos meios de comunicação e transporte. Viagens que antes eram extremamente longas, ou mesmo impossíveis, a partir de então eram realizáveis em um tempo, para a época, muito veloz. O próprio processo revolucionário se expandiu espacialmente; não mais se atinha apenas a Inglaterra. Agora países como Estados Unidos, França, Bélgica, Japão, Holanda e Estados da Alemanha começavam a ter as indústrias dentro de seu território.
Com isso, afirmar que o surgimento da indústria acarretou uma mudança em grande parte da humanidade parecida com a revolução agrícola do período neolítico não é nenhum exagero. Em um espaço de tempo curtíssimo, o ser humano deixava de produzir para si ou para um mercado limitado; tinha início a era da produção em massa. Novos materiais eram explorados, como os produtos sintéticos e o aço, assim como novas formas de combustível, principalmente o petróleo. Com tudo isso, não é de se espantar que, ao presenciar o surgimento de novas e numerosas riquezas para sua vida, alguns percebem no progresso científico e tecnológico a resposta para os problemas de miséria e pobreza da humanidade. Os que defendiam essa teoria diziam que com uma produção crescente não haveria mais porque existir desigualdade e fome. Mas, como a experiência histórica demonstrou, não foi isso que aconteceu.
A expansão da indústria ocorre em conjunto com o êxodo rural e o crescimento da urbanização. As cidades cresciam a uma velocidade assustadora, e com elas surge um fenômeno antes desconhecido: a multidão – aglomerado de grande número de indivíduos. Também era assustador presenciar a pobreza que, ao contrário do que alguns imaginavam, crescia cada vez mais. Na Inglaterra, desde a primeira fase da Revolução Industrial isso já ocorria. Os trabalhadores da indústria eram chamados de proletariado, nome que tinha origem na palavra “prole”, isto é, filhos. Esse nome vem da idéia de que o trabalhador deveria ganhar um salário suficiente apenas para sustentar sua família e filhos. Estes últimos deveriam engrossar o enorme número de trabalhadores, dispostos a trabalhar muito e ganhar pouco, já que essa era a única maneira de sobreviver. Mulheres e crianças se viam obrigadas a trabalhar, muitas vezes em condições sub-humanas e ganhando menos que os homens, para poder gerar uma maior renda familiar. Seja nas minas de carvão ou nas indústrias têxteis (ambas características da 1ª fase da Revolução Industrial), o ser humano não tinha escolha: ou aceitava trabalhar para o proprietário dos meios de produção, ou engrossava o número de desempregados e miseráveis.
Os operários, ao tomarem consciência da sua condição de explorados, organizaram-se. Não aceitavam mais perder o emprego para máquinas. Tampouco desejavam continuar a trabalhar por extensas jornadas, que em alguns casos chegavam à 14 horas diárias. Reivindicavam também melhores salários para poder viver com mais dignidade. Essa situação só viria a piorar com o já citado processo de expansão do uso das máquinas. Elas eram cômodas para o dono das fábricas: trabalhavam mais, não reclamavam, muito menos se organizavam para realizar greves e protestos. Alguns proletários, percebendo isso, passaram a quebrar máquinas, colocando nelas a culpa de sua situação. Na verdade, não percebiam que não eram elas a causa de sua pobreza, mas sim o sistema capitalista no qual estavam inseridos.
Esse sistema foi estudado e analisado pelos filósofos Karl Marx e Friedrich Engels, e segundo eles baseia-se na distinção entre duas classes opostas: a burguesia e o proletariado. A primeira era dona dos meios de produção; a segunda, dona apenas de sua força de trabalho e que, sem a posse dos meios de produção, vendia sua força para o capitalista burguês, que o recompensava através do salário.
Mas algo mudou nos operários entre as duas fases da expansão da indústria. Ao invés de protestos isolados, os trabalhadores passaram a se organizar melhor. Surgiram os sindicatos, grupos organizados de trabalhadores que reivindicavam melhoras na sua situação. Conquistaram direitos como a progressiva diminuição da jornada de trabalho e a regulamentação (ou mesmo proibição, em alguns lugares) do trabalho feminino e infantil. O próprio movimento operário se internacionalizou, para ganhar mais força e unir sua luta por condições mais justas, sob a bandeira de diferentes ideologias.
Entre as ideologias que combatiam a ordem vigente, é possível apresentar as mais importantes no contexto do século XIX. Por parte do proletariado, o socialismo utópico, de filósofos como Saint-Simon e Fourier, pregava o acordo entre burgueses e proletários para fundar uma sociedade mais justa e sem desigualdades. Marx os chamaria mais tarde de utópicos por acreditarem nesse acordo pacífico. Ele e seu companheiro Engels idealizaram o socialismo científico, que pregava a revolução, por parte do proletariado, do sistema de produção vigente, gerando uma reorganização racional do processo produtivo e da divisão da riqueza gerada por ele. Também surgiu o anarquismo, criado principalmente por Bakunin, Kropotkin e Proudhon. Os anarquistas acreditavam que era possível, após uma revolução armada, uma sociedade organizada na existência pacífica de seus membros, sem a submissão a um governo, onde não existira hierarquia e, portanto, sem miséria e desigualdades. Das três correntes, é possível perceber a preocupação com o crescimento das desigualdades sociais e da sua situação de exploração.
Por parte da burguesia, a principal ideologia era o liberalismo. O pensamento liberal defendia a livre concorrência e o direito do indivíduo investir onde e como quisesse. O mercado deveria determinar o preço dos produtos através da lei da oferta e da procura, e o Estado deveria interferir na economia o menos possível.
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